segunda-feira, 7 de abril de 2008

O centro sai da história e volta à glória


Ao contrário da maioria das capitais litorâneas, João Pessoa não se originou na praia, mas, sim no centro da cidade, no seu interior. Devido à dificuldade de se chegar à costa pessoense por causa dos seus arrecifes, os primeiros desbravadores da cidade, aqui chegaram através dos rios Parahyba e Sanhauá, depois de entrarem no estado por Cabedelo. Assim então, às margens do rio Sanhauá, Surgiu Nossa Senhora das Neves, que seria mais tarde Filipéia de Nossa Senhora das Neves, Frederica, Parahyba e finalmente, em homenagem ao político paraibano assassinado em recife no ano de 1930, João Pessoa.

Essa particularidade histórica fez com que a cidade tivesse nos primeiros séculos de sua existência toda a sua vida social e econômica centrada nos arredores do rio Sanhauá. Construções glamourosas e monumentais adornam a cidade antiga. Com seu casaril colonial, suas igejas barrocas e rococós. Suas praças que inspiram qualquer observador, por menos atento que ele seja, a uma viagem no tempo, mais precisamente há 3 séculos atrás. Ás tardes no largo de São Pedro, às missas na Catedral, às pessoas nas sacadas dos antigos casarões, símbolo de austeridade e pompa naquela época.
Porém, com o passar do tempo a cidade cresceu em direção à praia e aos poucos as famílias ricas foram migrando do bucólico centro para os novos e modernos bairros, que passaram a ser a nova mania da alta sociedade local. O antigo glamour das tardes nas praças, no pavilhão do chá e nas igrejas foi dando lugar a alguns poucos pontos comerciais, em sua maioria lojas automotivas, e ao esquecimento marginalizado de alguns bordéis. Sem nenhum esforço público para a manutenção, muitos dos centenários casarões, já em ruínas acabaram desabando. Cada vez mais esquecida e sombria a cidade baixa ganhou a fama de reduto dos marginalizados e foi excluída do roteiro do pessoense moderno.
Esse quadro, porém, vem mudando há cerca de 10 anos. Tombado pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade, o centro histórico ganhou o fôlego que precisava para estar perto de voltar ao seu passado de glória. De lá para cá, ele vêm sendo revitalizado e inserido no roteiro turístico da capital.
Turistas de todo o mundo se encantam com a riqueza de detalhes na sua arquitetura centenária e com a exuberância da natureza tão generosa, que juntas compõem um par perfeito.
Um dos pontos altos do roteiro turístico da cidade antiga é o pôr do sol visto da sacada do antigo hotel Globo.De onde a vista retrata nada mais nada menos que a beleza estonteante do rio Sanhauá, cortando ao meio a mata atlântica, serve de pouso tranquilo para o astro rei. Tudo isso visto do charmoso prédio de construção datada do começo do século passado. Os visitantes, sejam eles turistas ou pessoenses, concordam quase em uníssono que o lugar tem um clima todo especial que os remete a outra época.
A Casa da pólvora é outra construção impressionante. Construída com fins militares durante a colonização portuguesa, ela permanece quase que totalmente original. Hoje em dia serve como espaço para exposições de artes visuais. Também possui uma posição privilegiada em relação ao rio Sanhauá e a mata Atlântica.
Um pouco antes da casa da pólvora pode-se encontrar aquela que talvez seja a mais impressionante obra arquitetônica do estado: O museu cultural São Francisco. Com suas ricas naves religiosas, folheadas a ouro com pinturas
barrocas no teto e sua suntuosa mobília. O lugar abriga muito mais mistérios do que se supõe, com os corpos dos antigos nobres da cidade enterrados embaixo do altar, ironicamente o altar da nave dos casamentos. Seus claustros que já abrigaram freiras, monges e até mesmo soldados em batalha. Seus pátios enormes e silenciosos. Seus cômodos hoje foram transformados em espaços para exposições culturais.Lugar de uma grandiosidade arquitetônica e histórica o museu é mesmo de tirar o fôlego.
Voltando ao largo de São Pedro, é possível encontrar ainda ótimas opções de entretenimento noturno. O conjunto de casarões e sobrados tão bonito de se observar durante o dia, ganha ainda mais vida à noite. Quando se transformam em bares e pequenos espaços para a apresentação de grupos musicais. Lugares como a In toca, o Galpão 14, o Casarão 34 e o Gabinete Cultural de Fubá são exemplos de boas opções de lazer. Onde é sempre possível encontrar boa música em um espaço agradável.
Se a volta do centro histórico como roteiro turístico em si, é um fato novo. O surgimento das noites culturais na cidade velha é ainda mais recente. Por isso mesmo, a noite central pessoense ainda permanece um tanto quanto acanhada, mas, vem aos poucos, e até bem rapidamente, ganhando força. Assim afirma Maria de Fátima de 46 anos, balconista de um dos bares que funciona no largo de São Pedro. “Melhorou muito de 3 anos pra cá, tem muito turista vindo aqui. Agora o pessoal abre os outros casarões que antes não abriam... Isso tudo veio depois que reformou aqui, quando arrumaram a praça.” Pollyanna Gomes, 21 anos, estudante, se revelou uma admiradora das noites no largo de São Pedro. “ Eu me encantei com a noite aqui, o clima é ótimo, muito melhor que na praia, essa é uma das partes que eu mais gosto da cidade.”
O ressurgimento do centro histórico não beneficiou apenas os visitantes que agora ganharam mais uma opção de lazer, mas também a economia da cidade que ganhou um novo fôlego e pôde gerar empregos. Maria de Fátima entende bem da felicidade trazida pela mudança ocasionada pela revitalização da cidade baixa. “Agora eu tenho carteira assinada, há muito tempo eu não sabia o que era isso.”
O centro histórico de João Pessoa renasceu e trouxe com ele cidadania, cultura e lazer. Ou seja: é uma versão da fênix da mitologia grega em versão sustentável.