quinta-feira, 14 de junho de 2007

CONTO - O fruto

Discuto com os vizinhos sobre ética, cidadania, democracia. Não que saiba, de fato, o que são, mas através da troca de idéias expurgo meus preconcetos e sei, mais ou menos, o que querem as pessoas. Hoje elas querem mais honestidade. Mesmo, às vezes, elas não sendo éticas consigo mesmas. Sei o que poderá me acontecer. A justiça não é cega para mim. Espero há décadas por um representante que seja fiel a seus princípios. Que seja honesto. Me decepciono a cada eleição. Pelo contrário, observo pela tv um bolo fétido de escrotos tirando uma com a minha cara. Com meu dinheiro. Com minha paciência. Minha esperança. Cansei! Sei que as coisas não caminham por aí. Mas sei que assim não podem ficar.
- Vou acordar o Brasil.
- Pois não?
- Eu queria uma corda forte...
- Quantos metros?
- Sei lá. Que fosse grande e forte. Que dê para amarrar um porco.
Comprei também algemas, estiletes, fita adesiva. O rapaz ainda deu desconto por ter comprado um revólver vetusto.
Saí da loja. Brasília é estranha. Não tem esquinas. E faz um calor infernal.
Preciso alugar um carro, um lugar para ficar. Porque comprei a arma? Uma de brinquedo bastaria. Ou não. Se é por uma causa séria, eu fiz certo então.
Um orelhão:
- Alô, é do Correio Brasiliense?
- É.
- Eu tenho uma informação importante...
Agora é só esperar. Um deputado sai cercado de gente. O revólver esquenta na cintura:
- Pra trás todo mundo! Gritos.
O deputado paralisou:
- Tô aqui só pra levar ele.
- Não!
- Sim, você, seu filho da puta!
Coloquei-o no carro. Parti desesperado. Aluguei um quarto próximo do sequestro. Sequestro? Eu não sou sequestrador! Sou um cidadão! Vou acordar o Brasil! Algemado no quarto o deputado chorava:
- Eu nem acredito que vocês choram. Porco não chora! Gritei.
A primeira luz de câmera:
- Até que em fim chegaram. Depois veio outra emissora, e depois bombeiros, e depois advogados e por fim a polícia. Essa hora as manchetes já devem estar alertando as pessoas.
O negociador:
- Qual o seu nome?
- Povo!
- O quê?
- Povo População Indignada da Silva.
Gargalhei. Ele fez silêncio.
- Eu quero honestidade, disse.
- O quê?
- H-o-n-e-s-t-i-d-a-d-e!
Foi comunicar ao outros. Enquanto isso o roliço deputado chorava. Eu ria.
- Povo!
- Oi, capitão?Respondi.
- Tá certo. Vamos te dar isso, mas primeiro solte o refém.
Chorei de rir ao lado do deputado. Trataram tão fisiologicamente a situação que não aguentei:
- Não é assim, capitão. Eu quero que os políticos desse país nos levem a sério. Eu sou o fruto do escárnio parlamentar para com a população brasileira. E eu sei que até o senhor, capitão, quer isso também. Portanto, você está do meu lado, não contra mim.
- Entendo. Mas não é assim que a banda toca. Não sequestrando. Ameaçando.
- E é como então? Me diga, senhor capitão, que eu solto esse chorão na hora!
- É votando.
Não aguentei novamente. O deputado riu comigo.
- Vamos ser obrigados a invadir.
- Eu estouro a cabeça dele!
O deputado parou de rir quando ouviu:
- Já avisou a imprensa do que eu quero?
- Já.
- E o que é?
- Honestidade!
Pela fresta da janela eu via os jornalistas frente às câmeras.
- Sou o fruto do escárnio parlamentar, gritei num tom triste.
- Tenha calma. Todos somos, respondeu o capitão.
Comecei a chorar copiosamente. O deputado ficou atônito. Parecia entender. Senti um leve silêncio. Previ a invasão. Antes disso, tirei o revólver da cintura, apontei para o deputado e atirei. O primeiro e único tiro da minha vida, até invadirem violentamente o quarto e me transfomarem em alimento de piranhas metálicas. Tentando acordar o Brasil fechei meus olhos para sempre.
*
GIOVANNI ALVES

2 comentários:

Anônimo disse...

Vou logo dizendo a verdade, detesto ler no computador. Então acho q Giovanni conseguiu uma proeza. Me manter lendo mais de 4 linhas é milagre!

^^~

Minha "humirde" opinião!


Amara Alcântara

Anônimo disse...

Meu amigoo muitooo pau esse texto
giovanni
adorei parabénss
^^

Layse Veloso