sexta-feira, 20 de abril de 2007

Amarelo Manga A poesia no meio da lama.


Um filme forte e sem floreios, essa é a primeira definição que me vem à cabeça. Fruto dessa nova e efervescente geração do cinema nordestino, mais especificamente do cinema pernambucano, Amarelo Manga possui um enredo que se passa no burburinho do lado pobre de Recife. O filme é uma crônica sobre o ser humano. Mais especificamente sobre o ser humano de classe baixa de um dos maiores centros urbanos nordestinos. Numa história que incomoda, inquieta e agride a consciência, o que se vê não é um maqueamento da pobreza. Tão pouco uma idealização dos personagens e do meio em que vivem. Mas se não há confetes, também não se pode dizer que há escárnio. Vencedor de vários prêmios em alguns dos mais importantes festivais de cinema do mundo, Amarelo é mais um representante dessa nova e rica onda de produções pernambucanas que vem acontecendo desde Baile perfumado. O filme faz, o que o cinema nordestino faz de melhor contar a história de sua gente.
Todo o cenário e toda a visão dos personagens são cuidadosamente colocados, de maneira a servir de pano de fundo para o tema principal do filme: O ser humano. O que se coloca em questão, o que se vê em destaque, são os sentimentos, pensamentos, perversões, desejos, sonhos e medos daquelas pessoas. Pode-se também afirmar que o filme parece às vezes ser construído sem edição, pois o que se observa é um todo de todos os personagens. Nenhum é enaltecido, mas todos são explicados. São então seres humanos em um ambiente denso e insalubre da periferia de Recife, cheios de nuances de caráter, nenhum é bandido ou mocinho. Cada um com uma particularidade, dentro daquele contexto social, acaba tendo uma função extremamente metafórica se comparados à humanidade como um todo. O filme, aliás, toca nas feridas sociais da cidade, sem ao menos dizer uma palavra sobre isso.
O padre que temia a morte, a velha matrona que carregava consigo suas culpas e padecia da solidão, a mulher sexualmente reprimida, o homossexual que buscava o amor, a amargura na vida da dona de bar... Todos acabam tendo um importante papel nessa criação brilhante, que choca pelas imagens fortes, a linguagem “esculacho” e o cenário “sujo”. Mas tudo isso é essencial para criar a atmosfera reflexiva do filme e chamar a atenção do espectador para os pontos chaves da narrativa.
Embora de classe baixa e de pouca instrução, os personagens vez ou outra soltam frases e pensamentos de muita propriedade e até de muita poesia. Algumas vezes eles falam direto para a câmera como forma de fisgar, de dialogar com o espectador. Recurso muito eficiente, pois envolve ainda, faz o espectador sentir o universo sujo e pobre dos personagens. Amarelo Manga é pura poesia no meio da lama.

3 comentários:

Pollyanna Gomes disse...

preciso comentar??
achei ótimo seu texto
nossas ideis fluiram bem parecidas hem \o/, da proxima vez cometamos o filme ok...

Daniel disse...

Ótimo texto. Deve ser um filme muito interessante.

Ligia Granja disse...

Muito interessante a crítica.
Confesso que de início não gostei do filme, pois acho que esses temas que chocam têm sido recorrentes no cinema brasileiro, o que acaba levando para fora algo que denigre o Brasil tão bonito que todos conhecem. Mas é um filme de caráter reflexivo que a intenção é chocar mesmo. Estou fazendo um artigo sobre a influência da moda no figurino do cinema pernambucano. E para falar de figurino a personalidade dos personagens e a linguagem corporal é muito importante. Seu texto me ajudou bastante! Parabens! Obrigada!