sábado, 14 de abril de 2007

Relacionando as teorias: disposições dos três pensadores acerca das relações de dominação nas sociedades

Os conceitos que envolvem as relações de dominação são tratados a partir de visões de mundo que se interligam. Durkheim baseia-se na externalidade, ou seja, na visão de que o indivíduo só se constitui um ator social na medida em que o grupo (corporação) disponibiliza os usos e práticas, legitimadas pelo mesmo, necessários para a modificação do meio e manutenção do equilíbrio. O homem é dotado de uma pseudo-autonomia, onde o fato social expressa a coerção que o grupo exerce sobre os indivíduos. Indivíduo este que, segundo Marx, possui a capacidade de atuar no meio, transformando-o de acordo com suas necessidades. O que para Durkheim não se aplica, já que trata da imposição das particularidades sobre a coletividade como um possível sintoma de anomia, e prevê a coerção como meio de manter a funcionalidade do organismo social.

Na visão de Marx, a divisão do trabalho promove o aspecto heterogêneo da sociedade caracterizado pelas relações estabelecidas entre grupos que submetem ou submetem-se, em prol do processo de produção. Privilegiando o acúmulo dos bens de produção em detrimento às condições básicas de sobrevivência dos que produzem, o processo torna-se um meio de aquisição do poder numa sociedade onde aqueles que detém os meios de produção são beneficiados.


Um outro conceito é fundamental na questão das relações de dominação, o controle social, que na perspectiva de Durkheim é obtido através da imposição da moral, para Marx se dá através das falsas consciências, engendradas pelas ideologias que visam a manutenção do sistema em vigor. Uma possível função do Estado, para os marxistas, seria a de garantir a manutenção desse controle, disseminando o conformismo e a alienação. E por isso deve ser gradativamente extinto.

Weber, por outro lado, propõe uma visão mais positiva da política, defendendo a constituição de uma burocracia formada pelo controle democrático. Max Weber através de um estudo mais generalizado, afirma que tais relações de dominação, caracterizadas pela violência dita legítima, ocorrem através do domínio tradicional, carismático e racional-legal. O homem submete-se, visando à sobrevivência – como o próprio Marx afirmou. A obediência às imposições ocorre, na visão de Weber, devido à recompensa material e a honraria social.

Para uma compreensão assertiva da Sociologia moderna é preciso estudar a fundo as idéias colocadas pelos três pensadores. Com propostas que convergem e divergem à medida que se aprofundam os temas citados, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim afirmam-se como ícones das ciências sociais modernas.

O século XIX foi o palco das principais transformações que determinaram o modo de organização e capacidade de manutenção das sociedades modernas. Revoluções ditaram o ritmo das mudanças que se sucederam. O ideal liberal nasce na Inglaterra e começa a difundir-se por toda a Europa central e oriental derrubando regimes totalitários e monarquias absolutistas. Nesse cenário surgem as principais correntes de pensamento que buscavam, por meio da razão e associações lógicas, encontrar as soluções para os problemas sociais que perduravam desde a Idade Média.

Métodos como o Materialismo Histórico e Dialético de Karl Marx colocaram em xeque verdadeiros dogmas impostos pelo Capitalismo. Marx, que junto aos seus colaboradores, formulou um sistema no qual acreditava melhor se adequar a uma sociedade que, segundo ele, tinha suas bases na produção material e acúmulo de riquezas. Sociedade que, segundo Durkheim, possui certa independência do indivíduo. Assim como o homem é incapaz de viver isoladamente, organizando-se desde sempre em grupos, as questões sociais não podiam ser discutidas tendo como ponto de partida o indivíduo. O fato social é algo que o indivíduo não criou, mas precisa aceitar.

A quebra desse sistema harmônico seria a principal causa do que ele chamou de patologia social. É justamente nesse ponto onde Marx previa o início de uma revolução proletária. A partir da conscientização do operário, que percebe a sua função no modelo onde ele constitui a força produtora, e da organização das classes trabalhadoras, surgiria um novo sistema que viria a derrubar o modelo capitalista. Sistema conhecido como Socialismo. E que encontrou seus adeptos com o passar dos anos.

A toda essa problemática, Max Weber lança os conceitos de recompensa material e honraria social, que para ele, determinavam a manutenção do sistema vigente. Além disso, Weber encontrou no espírito religioso do calvinismo as bases econômicas do capitalismo. Fato ainda não observado com profundidade pelos outros dois pensadores.

O sistema capitalista perdura até hoje, impondo práticas que haviam sido previstas pelos três estudiosos. As obras que tais intelectuais produziram são tidas como “bíblias” para os juristas, políticos e teóricos contemporâneos. A progressiva revisão das teorias apresentadas aqui, com certeza indicará o caminho para o qual as sociedades deverão rumar. É bem verdade que todos eles viveram sob regimes totalitários e enfrentaram a reação imediata da propagação de suas idéias. Os tempos atuais são de calmaria. Mas as tempestades se renovam no eterno e cruel ciclo histórico da humanidade.


Caio Gomes

2 comentários:

Pollyanna Gomes disse...

texto bem sugestivo, excelente a análise desses 3 grandes pensadores, pois a contribuição deles foi de muita importancia para vários ramos e abriu portas para várias temáticas e discursões. Parabéns Caio!!

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny